A noite estava fria e silenciosa na antiga faculdade de direito, um prédio histórico no centro da cidade. Era a última semana de aula, as notas do semestre já haviam sido anunciadas e poucos estudantes ainda andavam pelo lugar.
Um grupo de cinco estudantes entediados decidiu relembrar uma antiga brincadeira de infância: invocar a Loira do Banheiro. Eles haviam ouvido falar que, no terceiro andar da faculdade, o banheiro feminino era conhecido por ser o lugar onde uma jovem havia se suicidado nos anos 70. Diziam que ela tinha cortado os próprios pulsos depois de ser humilhada por um grupo de colegas, e desde então, seu espírito vagava pelo local.
— Isso é só um monte de baboseiras — disse Lucas, tentando esconder o nervosismo com uma risada. — Mas já que estamos aqui mesmo, vamos ver se conseguimos fazer ela aparecer.
Aline, que sempre gostou de histórias de terror, caminhou na frente empolgada.
— Vamos, gente. Vai ser divertido! Quem não quiser pode ficar fora… sozinho. ela disse, abrindo a porta do banheiro que soltou um rangido.
O grupo entrou no banheiro de paredes cobertas de grafites antigos e rabiscos feitos por gerações de estudantes entediados. Aline caminhou até o espelho embaçado e deu um sorriu nervoso.
— Vocês se lembram como funciona, né? — Paulo começou a falar — A gente precisa dar a descarga três vezes, bater na porta do banheiro e falar “Loira do Banheiro, aparece pra mim!” três vezes.
Letícia, que já estava arrependida de ter concordado em participar, segurou o braço de Bruno e disse gaguejando:
— Gente, isso é só uma lenda, né? Não vai acontecer nada…
— Vamos fazer isso logo. Aline, você começa. — disse Lucas, querendo mostrar como era corajoso.
Aline foi até uma das cabines, deu a descarga três vezes, enquanto os outros observavam em silêncio. Ela saiu, foi até a porta do banheiro e bateu três vezes com força. O som ecoou no banheiro vazio, fazendo o coração de todos acelerar.
Então, ela voltou ao espelho e, com uma voz trêmula, chamou três vezes:
— Loira do Banheiro, aparece pra mim. Loira do Banheiro, aparece pra mim. Loira do Banheiro, aparece pra mim!
Nada aconteceu. Apenas o silêncio do banheiro na noite vazia. Aline respirou aliviada e riu.
— Tá vendo? Nada demais.
Assim que todos esboçaram um sorriso de alívio, as luzes do banheiro começaram a piscar freneticamente. Um som agudo e estridente, como um rangido metálico, encheu o ar, e um frio congelante invadiu o lugar.
O espelho embaçado começou a exibir algo diferente. Uma figura começou a se formar lentamente, os contornos se tornando cada vez mais nítidos. Era uma mulher de cabelos loiros bagunçados, rosto pálido e distorcido. Com um olhar vazio e profundo ela encarava os cinco amigos através do espelho.
Letícia gritou, e Bruno tentou abrir a porta, mas estranhamente ela estava trancada. Paulo começou a recitar orações, enquanto Lucas e Aline se afastaram tremendo.
A Loira do Banheiro havia se formado completamente no espelho, seu rosto se contorcendo em uma expressão de raiva, desespero e dor. Ela deu um passo à frente e tocou o espelho por dentro, como se tentasse atravessar o vidro.
O pânico tomou conta de todos. Lucas tentou quebrar o espelho com uma lixeira, na esperança de que isso fizesse aquela coisa desaparecer. O espelho apenas trincou, mas a garota fantasmagórica permaneceu intacta. Avançando mais um pouco, suas mãos saíram do espelho.
Letícia começou a chorar e pedir perdão por ter participado da brincadeira.
Aline, com a voz embargada, pediu a Lucas para parar aquilo tudo:
— Acho que a gente precisa pedir desculpas… talvez… talvez ela nos perdoe por incomodar ela…
Lucas, desesperado, gritou para a Loira do Banheiro:
— Foi mal! A gente não queria incomodar! Por favor, vá embora!
O espírito parou, a meio caminho de sair do espelho. Por um momento, o banheiro ficou em um grande silêncio, quebrado apenas pelos soluços de Letícia. Então, lentamente, a Loira do Banheiro começou a recuar, desaparecendo novamente na superfície do espelho.
As luzes pararam de piscar, e o banheiro voltou ao seu estado normal, exceto pelo espelho rachado. A porta que estava trancada, se abriu com um rangido.
Sem olhar para trás, o grupo saiu correndo do banheiro e da faculdade, jurando nunca mais voltar àquele prédio.
Quanto a Loira do Banheiro do terceiro andar, ela continua lá esperando por um novo grupo de vítimas que sobrevivam ao encontro para contar sua história.