Visitas noturnas

Publicado por em 06 jun 25. Textos
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Na primeira noite, ele apareceu apenas como uma sombra ao fim dos sonhos de Helena. Silhueta alta, olhos como brasas acesas na escuridão. Ela acordou ofegante, o corpo suado e o coração em descompasso, como se algo terrível tivesse sido sussurrado diretamente para sua alma.

Na segunda noite, ele entrou em seu quarto onírico. Não falou, apenas a observou. Seu rosto era belo demais para ser real, e seus lábios, finos e pálidos, pareciam esconder promessas proibidas. Quando ela acordou, sentia um gosto de vinho e ferro na boca.

Na terceira noite, ele tocou seu pescoço. A ponta dos dedos queimava como gelo. Helena tentou se afastar, mas as pernas estavam presas ao chão em seu sonho. “Em breve”, ele disse, com voz quase hipnótica. “Você me pertencerá como a lua pertence à noite.”

Os dias passaram e ela parou de comer. Os olhos fundos, a pele pálida, os pensamentos em chamas. Ninguém acreditava quando ela dizia que estava sendo visitada. Um psiquiatra foi chamado. Depois, um padre. Mas ninguém conseguia entrar em seus sonhos para afastá-lo.

A cada noite os sonhos se tornavam mais intensos, megulhando Helena mais fundo nas sombras do desejo e do medo. O vampiro não era mais apenas um visitante, era um amante faminto, um tormento irresistível. Suas mãos frias percorriam sua pele com delicadeza letal, sussurrando palavras em línguas antigas que a faziam derreter de pavor e luxúria. Os cenários se tornavam mais vívidos: salões escuros iluminados por velas, florestas enevoadas onde ele a perseguia como fera sedenta, e leitos de veludo em castelos que pareciam pulsar com vida.

Helena acordava exausta, com marcas vermelhas no pescoço e o corpo latejando de um desejo que beirava a loucura.

Na última noite, ela não acordou.

Encontraram seu corpo na cama, os olhos abertos, um sorriso estranho nos lábios. E no espelho embaçado de seu quarto, havia um texto:

“Agora ela é minha. Para sempre.”

E quando outra jovem se mudou para a casa… os sonhos começaram outra vez.

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