Quando Inobi nasceu, era um pequeno curumim muito belo de olhos grandes e atentos. Toda a tribo se alegrou porque Inobi era o primeiro homem a nascer depois de muito, muito tempo. Os menores curumins que nasceram antes do pequeno Inobi já tinham idade para carregar seus arcos e poucas cunhatãs haviam nascido neste período.
A tribo acreditava que uma maldição havia caído sobre seus homens, os impedindo de frutificar as mulheres. Mas o nascimento do pequeno curumim parecia ter trazido fim à maldição e, de fato, outros curumins nasceram depois de Inobi.
O menino era realmente diferente das outras crianças, crescia muito rápido, era esperto e forte. Ele também demonstrava muita facilidade para aprender diferentes pajelanças.
Por ter sido seu salvador, o pequeno foi criado com toda a atenção e carinho por toda a tribo, como um grande herói, recebendo sempre tudo o que queria e sendo mimado por todos. Mas, infelizmente, quando Inobi chegou na idade de empunhar seu próprio arco, sua mãe faleceu de uma doença misteriosa.
O jovem ficou transtornado e agressivo com todos. O pajé da tribo tentou conversar com o rapaz, explicando-lhe que os homens não são capazes de compreender os desígnios da natureza. Porém, Inobi não lhe emprestou ouvidos.
Ele sempre tinha ganhado tudo o que queria da tribo e agora queria sua mãe.
Inobi cresceu, cada vez mais violento, sendo cruel com os animais e bruto com os companheiros. Muitos jovens tinham medo de ir à caçadas com ele.
Ainda assim, a tribo sentia que tinha uma dívida por ter sido ele o portador do fim da maldição e, por isso, suportavam seu terrível comportamento.
Por fim, Inobi, já tornado homem, começou a aprender pajelanças proibidas, realizando rituais assustadores, invocando espíritos malignos e tornando-se ainda mais cruel. A tribo não viu outra opção a não ser expulsá-lo.
Inobi passou então a viver na floresta, fora da aldeia. Muitas vezes podia-se ouvir seus gritos assustadores durante suas caçadas. Os coletores da tribo tinham cada vez mais medo de se encontrar com ele.
O que ninguém sabia é que os rituais criados por Inobi tinham por objetivo vencer a morte. Acostumado quando pequeno a ter tudo o que queria, ele não podia aceitar que não pudesse vencer a morte. E após diversas cerimônias proibidas, o homem descobriu o segredo da imortalidade.
Juntando pedaços de diferentes animais e conjurando espíritos malignos, Inobi criou uma poção que tornou sua pele invulnerável e o deixou mais forte e maior do que já era. Mas a imortalidade cobrava um alto preço, Inobi sentia cada vez mais fome e devorava todos os animais e frutas que encontrava. Logo não havia mais muitos alimentos próximos ao local onde morava.
Inobi passou a atacar a aldeia, roubando animais e comida, mas nada aplacava sua fome. Então o homem passou a também atacar e devorar outras pessoas. Como sua pele era invulnerável às flechas e outras armas, o povo da aldeia não teve opção, a não ser fugir.
O imortal começou a procurar outras aldeias para atacar e locais para caçar animais e pessoas.
Tupã, vendo isso se entristeceu e, para evitar que Inobi pudesse destruir todas as coisas, o transformou num monstro que pudesse ser visto com facilidade na mata. Fez longos pelos vermelhos crescerem em seu corpo, lhe deu uma boca do tamanho de sua fome, que se estendia até o umbigo e dela começou a exalar o cheiro horrível de sua alma apodrecida, que podia ser sentido a grande distância.
Assim, todas as tribos começaram a se proteger e fugir da criatura que passou a ser conhecida como Mapinguari.
Até hoje, Inobi transformado em Mapinguari vaga pelas florestas durante o dia, com seus gritos assustadores, procurando por homens tolos que não acreditem em sua existência.
