A Lenda do Corpo Seco

Publicado por em 18 maio 21. Folclore
Tempo estimado para leitura: 5 minutos

Os mais antigos contam que, quando uma pessoa é realmente muito ruim, para pagar por seus crimes, tem um destino pior do que a morte: quando essa pessoa morre, fica condenada a vagar pelo mundo com seu corpo em decomposição. Esta assombração é chamada de corpo seco.

Essa lenda é muito comum nos estados de São Paulo, Minas Gerais e da região Centro-Oeste, mas tem versões em todo o país.

A criatura medonha retira sua energia da vida de outros seres, por isso, durante o dia o corpo seco permanece grudado em troncos de árvores que secam rapidamente. Mas, como ele prefere as vítimas humanas, caminha durante a noite pela mata, procurando algum viajante perdido.

Assim, se perto de onde você mora, perceber que há uma árvore que secou em pouquíssimos dias, é provável que haja um corpo seco rondando a região.

Como a criatura não é um morto, seu corpo não apodrece, mas, como também não está viva, o corpo vai ressecando e perdendo a musculatura, ficando com apenas os ossos e o couro.

Corpo-seco, ainda pode ter unhas e cabelos enormes, pois eles continuam crescer. Por isso, em algumas regiões, ele também é conhecido como Unhudo.

As histórias têm muitas variações. Em algumas delas, o monstro sobe nas costas do viajante, usando o coitado como uma montaria. Em outras, o corpo seco, ou unhudo, crava suas grandes unhas infectadas na vítima e rouba sua energia, isso também pode acontecer com um abraço mortal. Há ainda versões em que o corpo seco bebe o sangue da pessoa capturada, como um vampiro.

Em uma variação, o corpo seco é relacionado o bradador, outra narrativa folclórica sobre uma alma penada que vaga pelas madrugadas invadindo propriedades de pessoas e emitindo sons assustadores. Nessa versão da lenda, o corpo seco seria a metade física do bradador, a alma penada.

O que muitas lendas contam em comum é que quando a aparição segura alguém só é possível se soltar dando nela uma surra com uma vara de marmelo abençoada.



Relatos da Lenda

Existem muitos casos contados sobre pessoas que viraram corpos secos:

Há a história de menino Marcelo, malvado e muito mal criado, desrespeitava os pais e batia na própria mãe. Quando morreu, a terra não quis receber seu corpo e por isso tornou-se um monstro.

Uma outra história é de um outro menino cujo pai trabalhava na lavoura. Certo dia, o pai esqueceu de levar marmita e, na hora do almoço, a mãe pediu para o garoto levar comida para o pai. A mistura do dia era coxa de frango que o menino adorava, então ele parou debaixo de uma árvore, comeu a carne e levou apenas o osso na marmita para o pai. O pai perguntou o que tinha acontecido e o menino, com medo de apanhar, disse que a mãe estava com outro homem em casa e tinha dado a carne para esse homem e mandado os ossos roídos para o pai. O homem, cego de ciúmes voltou para casa e matou a mulher. Mas antes de morrer, ela amaldiçoou quem tivesse inventado essa calúnia. E o filho, tornou-se a assombração.

Também conta-se a histórias de vários senhores de terra que eram injustos, mesquinhos e malvados com seus escravos e funcionários. Trocavam qualquer coisa por dinheiro e visavam o lucro acima de qualquer vida. Todos esses, tornaram-se corpos secos.

Tem ainda uma história de uma mulher muito avarenta que ao morrer tornou-se um corpo seco e ficou guardando o chiqueiro para que ninguém roubasse seus porcos. Essa é a única versão que ouvi em que uma mulher se tornava corpo seco.

Corpo-seco e cultura pop

A lenda foi trabalhada recentemente na série Cidade Invisível, disponível na Netflix e pode ser vista também em Anicejara e a pedra do trovão, num momento em que nossos heróis quase morrem por seus próprios desejos.

Sabemos que a maldade corrói a alma do ser humano, mas essa lenda leva isso ao extremo. Por isso, cuide de suas ações, seja bom e, caso tenha que andar por matas desertas durante a noite, por precaução, leve sua varinha de marmelo.

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