Caçada noturna

Publicado por em 11 set 24. Folclore, Prosas e Contos, Textos
Tempo estimado para leitura: 8 minutos

A lua cheia brilhava alto no céu com um estranho tom avermelhado.

Lara caminhava pela trilha sinuosa da floresta, sentindo o vento frio acariciando sua pele enquanto seguia adiante. Seus passos eram firmes, embora seu coração batesse acelerado, pressentindo o perigo com o qual ela deveria se encontrar.

A jovem estava caçando algo que ela não podia explicar. Esse algo chamava por ela e a havia atraído para aquele lugar remoto e escuro. Havia semanas que sentia em seu peito um chamado inexplicável, uma presença que pulsava por todo seu ser toda vez que a lua cheia surgia. Agora, ela finalmente havia cedido.

Talvez fosse a sexta-feira 13, mas a floresta parecia se tornar mais ameaçadora à medida que ela avançava. O silêncio profundo da noite fazia com que cada um de seus movimentos ecoasse e até as batidas de seu coração pareciam reverberar pela floresta escura. Lara sentia que estava próxima do que buscava, mesmo que não soubesse ao certo o que era. Havia algo no ar, algo selvagem e perigoso que parecia chamá-la, e ela estava decidida a descobrir o que era — ou quem.

De repente, o silêncio se tornou ainda mais profundo e até mesmo o vento parou de soprar sobre as folhas das árvores. Era como se a floresta estivesse segurando a respiração, esperando para ver o que aconteceria.

Foi então que ela o viu. Alto e forte, parcialmente oculto pela neblina subia do chão. Mesmo à distância, Lara pôde sentir a intensidade de sua presença. Ele estava ali, imóvel, apenas a observando.

O coração dela saltou acelerado. Ela sabia que o momento havia chegado. Era isso o que procurava. Desde a primeira vez que ouviu as histórias sobre o lobisomem, sobre a fera que vagava por aquelas terras em noites de lua cheia, Lara sentira uma atração perigosa, algo que ia além do medo. Agora, ele estava ali, diante dela.

A figura deu um passo em sua direção, e então outro. O corpo musculoso movia-se com a fluidez de uma criatura que dominava as trevas. Lara ficou imóvel, o olhar preso no dele, sentindo cada nervo de seu corpo despertar, tomado por uma mistura de medo e excitação.

— Você não deveria estar aqui, garota — a voz rouca dele cortou o silêncio da noite. — Sabe o que acontece sob essa lua, em uma sexta-feira 13?

Lara deu um passo à frente, desafiadora.

— E se eu souber? — a intensidade de sua própria voz a surpreendeu.

Um sorriso predatório apareceu nos lábios dele, e ela soube que estava brincando com fogo.

— Então não posso te salvar.

O ar ao redor deles parecia vibrar com uma tensão quase palpável. Lara sentiu o medo do perigo, mas o desejo de saber até onde aquela situação a levaria era maior. Ela o observou com curiosidade, e o coração prestes a sair por sua boca. E então, antes que pudesse reagir, ele começou a se transformar.

O som de ossos quebrando, músculos esticando e garras surgindo encheu o ar. A forma humana lentamente foi dando lugar à fera — um lobisomem colossal, com pelos negros brilhando à luz da lua avermelhada. Seus olhos agora eram orbes douradas e ferozes, fixados nela com uma fome contida.

Mesmo diante da criatura monstruosa que se erguia à sua frente, Lara não recuou. O medo que sentia era sufocado por algo mais primitivo. Ela sentiu a própria respiração acelerar enquanto ele se aproximou e a tocou. Ela conteve um gemido de medo quando sentiu a pele quente roçar de leve contra a sua. A proximidade era ao mesmo tempo aterradora e tentadora.

Ela ergueu a mão, quase sem pensar, e tocou os pelos grossos no peito dele. O calor de seu corpo, a força contida sob a pele, a fizeram tremer. Ele não se afastou, deixando-a sentir o poder que emanava de cada fibra de seu ser. Por um momento, parecia haver mais homem do que monstro ali, como se, apesar de tudo, ele ainda fosse capaz de se conter.

Mas então ele rosnou, recuando um passo, os olhos ainda fixos nos dela, cheios de um desejo incontrolável.

— Vá embora — ele murmurou com esforço, a voz misturada entre o humano e o animal. — Saia daqui antes que eu não consiga mais me controlar.

Lara hesitou, o coração acelerado e os pensamentos confusos não permitiram que ela saísse do lugar, enquanto aquela voz reverberava dentro dela. Ela queria ficar. Sentia o corpo em chamas, a curiosidade intensa e perigosa dominando sua razão. Havia algo mais ali, algo que ela queria entender, uma conexão instintiva e visceral que a atraia com uma força desmedida.

Ele deu mais um passo para trás, seus olhos queimando com uma mistura de fúria e desejo. A mandíbula cerrada, as garras apertadas como se lutasse com todas as forças contra a fera dentro de si.

— Lara… — Ele rosnou seu nome de um modo gutural, quase doloroso. Como ele sabia seu nome? — Se não for agora… não haverá retorno.

Ainda assim, ela não se moveu.

O lobisomem se aproximou, rosnando baixo e se inclinou a poucos centímetros de seu rosto, a respiração quente e forte contra a pele de Lara fez seu o coração bater freneticamente. Ela não podia se mover, era incapaz de romper aquele feitiço.

— Eu não sou o homem que você imagina — ele sussurrou. — E quando a lua cair, eu não serei nada além de um monstro… e você, minha presa.

Ela sentiu um arrepio correr por sua espinha, o magnetismo da fera se tornando insuportável. Algo dentro dela a desafiava a ficar, a atravessar o limite do perigo.

O lobisomem segurou o pulso dela firme, mas sem feri-la. Suas mãos grandes e garras afiadas roçaram sua pele, fazendo ela estremecer. Ele a afastou poucos centímetros, mas o suficiente para quebrar o encanto que os prendia.

— Corra — ele ordenou com uma voz que tremia de esforço.

O comando ecoou por sua mente, seus pés se moveram e, antes que ela pudesse raciocinar, disparou pela floresta com o coração martelando em seu peito.

Antes de sair da floresta ela ouviu o uivo primal ecoar pela noite, reverberando no fundo de sua alma. Ela sabia que ele a tinha deixado ir — desta vez. Mas algo profundo e feroz dentro dela sabia que aquilo não terminaria ali. Ela já havia cruzado a linha, e tanto ela quanto a fera, ansiavam por mais.

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