Eu costumo dizer que Anicejara é um conto de “ficção folclórica”. Mas o que é ficção folclórica, e qual a diferença entre ela e o folclore propriamente dito?
Folclore
Com certeza, você deve se lembrar daquele trabalho que você fez na escola sobre folclore, que deve ter começado mais ou menos assim:
“o termo folklore foi cunhado pelo escritor William John Thoms, em 1846, e é formado pela união de folk (povo) e lore (sabedoria ou conhecimento)”.
Então, se folclore é a sabedoria ou o conhecimento de um povo, quando usamos este termo estamos pensando no conhecimento produzido e característico de um povo, de cultura popular. Ou seja, folclore são meios de pensar, se comunicar e agir, está no nosso dia a dia.
O que é Ficção Folclórica
O termo ficção folclórica, na definição de Andriolli Costa, é um subgênero da ficção especulativa (aquela que compreende terror, ficção científica e fantasia). Em outras palavras, as obras de ficção folclórica seriam trabalhos de ficção especulativa que buscam inspiração no folclore e nas culturas tradicionais que compuseram a identidade brasileira. E, como ficção, elas tem a liberdade poética de criar e distorcer o que é, de fato, folclórico com o objetivo de enriquecer o texto.
Por exemplo, em Anicejara e a pedra do trovão, eu misturo conceitos e histórias para formar os personagens:
O Saci da história tem uma forte influência com a Esfinge grega. E, todo o encontro entre Anicejara, Niara e o Saci, é baseado em um conto da idade média sobre um juiz corrupto.
Já o encontro com a Iara é influenciado na mulher que sabia fazer feitiços, em A Rainha da Neve de Hans Christian Andersen.
Para que serve a Ficção Folclórica?
O termo ficção folclórica é muito novo, assim como o próprio fenômeno desse tipo de escrita. Por isso, é preciso que haja ainda muita discussão sobre o que faz uma obra pertencer a este gênero. Também é preciso discutir o quando esse tipo de escrita ajuda ou atrapalha na apropriação do folclore.
Eu comecei a escrever Anicejara com o desejo de deixar as pessoas curiosas com nossos mitos e lendas e levar o leitor a pesquisar mais sobre cada um deles.
É sempre muito perigoso quando as pessoas confundem a ficção com a realidade, e isso vale também para os mitos e lendas e todo o folclore. É importante perceber a diferença. A manifestação folclórica revela a cultura de um grupo, já a ficção folclórica, apresenta o fantástico sem o compromisso com a história.
Eu comecei a escrever Anicejara com o desejo de deixar as pessoas curiosas com nossos mitos e lendas e levar o leitor a pesquisar mais sobre cada um deles. O que eu não podia imaginar é que eu mesmo mergulharia em um mar infinito de beleza e conhecimento.
Desde 2019, quando publiquei o livro, tenho tido a oportunidade de fazer cursos, conhecer pessoas que discutem esse tema, participar de palestras e, o que eu mais percebi é que “só sei que nada sei”.
Toda essa vivência tem me possibilitado aprender mais sobre nossa cultura, que é tão plural, aumentar meu repertório e perceber que, quem pensa diferente, não é meu inimigo. É com esse pensamento mais maduro que escrevi Anicejara e a Luz de Anhum que está em produção.
Se as histórias de Anicejara ajudarem as pessoas a querem conhecer mais sobre o folclore, sabendo que meus contos são ficção, ficarei muito feliz!
Se você achou este conteúdo importante deixa um comentário, me contando se você conhece e gosta de ficções baseadas no nosso folclore, se já conhecia o termo ficção folclórica e o que achou de tudo isso.