Você sente, não sente?
Essa sensação na sua nuca descoberta, esse arrepio que sobe como um sopro gelado na espinha? Esse peso nos seus passos, como se o chão quisesse te prender? Você finge que não é nada… mas eu sei. Seu corpo me reconhece antes da sua mente entender.
Você me sente antes de me ver.
Perdida nessa trilha, ofegante como se tivesse corrido por horas. Está cansada do quê? Da rotina, do medo ou da vontade? Porque eu sinto seu medo e desejos exalando de você como doce perfume.
Eu te observo, enquanto todas as noites você sonha com dentes, com olhos brilhando na escuridão… Cada vez que acorda molhada e assustada sem saber por quê… Sou eu.
Você me chamou.
Não com palavras. Com o sangue pulsando, com o jeito que olha por cima do ombro, esperando que algo venha. Com seu jeito impulsivo, feroz. Você queria sentir algo real.
Você corre, mas seu cheiro me atrai. A floresta inteira se cala pra te ouvir passar. E todas as trilhas me levam a você.
E agora… agora que estou tão perto, consigo escutar seu coração martelando no peito. Tão rápido. Tão vivo.
Você sabe o que eu sou.
E ainda assim… você não grita. Por quê? Está esperando o quê de mim? Que eu te poupe? Que eu te tome? Que eu te transforme?
Diga. Peça.
Porque quando eu saltar, quando meu corpo cobrir o seu na terra fria, quando meus dentes se cravarem sua pele… não haverá mais volta.
Só você.
Eu.
E a escuridão.
Pra sempre.