O Desejo de Pasífae (o mito do Minotauro)

Publicado por em 23 ago 25. Poemas e Poesias, Reflexões, Textos
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Noite salgada, véus de espuma,
o mar murmura o feitiço do deus.
Nos olhos da rainha, arde a chama impura,
um chamado selvagem que não é dos céus.

Pelos do touro, reluz a tormenta,
feroz soberano do campo e da carne.
Pasífae treme, sua pele lamenta,
mas o corpo implora o toque que arde.

Promíscua vertigem, abismo sagrado,
prazer e pecado no mesmo suor.
Deusa ou escrava do fado marcado,
ela se perde no cio do touro maior.

E quando o bramido corta a madrugada,
não é de dor que a rainha grita,
é da luxúria amaldiçoada
que faz da alma sua ferida infinita.


Você sabia que o Minotauro nasceu de um castigo divino e de um desejo profano?

O rei Minos desobedeceu a Poseidon, poupando um touro que deveria ter sido oferecido ao deus. Para punir Minos, Poseidon fez com que sua esposa, Pasífae, se apaixonasse pelo animal.

Dominada por uma luxúria irresistível, ela obrigou Dédalo (o pai de Ícaro) a criar uma engenhoca que permitisse que ela se unisse ao animal, e dessa união nasceu o Minotauro, criatura com corpo humano e cabeça de touro.

O horror desse mito vai além da monstruosidade física: ele revela a tragédia de Pasífae, condenada a pagar pelo erro do marido, e a maldição que marcou para sempre seu sangue e sua casa.

Orbitando sobre os desejos desordenados, a origem do Minotauro revela uma criatura que personifica a tragédia, a entrega aos instintos animalescos e a maldição dos deuses que acompanha aqueles que abrem mão do controle de suas vidas para os vícios.

Mitos e lendas podem ser brutais. Eles mostram violência, punições cruéis e desejos proibidos, e muitas vezes nos confrontam com o lado mais sombrio da humanidade. Mas é justamente nesse horror que encontramos reflexões profundas sobre nossa sociedade: sobre poder, culpa, justiça e os limites da moral.

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