Me lembro das noites, na infância, em que nos sentávamos ao redor da minha avó para ouvir seus contos e causos. Ela sempre teve a incrível capacidade da transformar palavras em imagens.
Lembro-me de um tempo em que amava quando acabava a energia elétrica para poder ficar ouvindo histórias arrepiantes a luz de velas. As histórias dela eram sempre contadas com uma inocência que conferia verdade ao relato, assim, toda história começava sem pretensão até alcançar o fantástico e o místico.
Homens que viravam bichos, fogo que perseguia pessoas, aparições misteriosas no céus, tesouros enfeitiçados, lugares assombrados ou mesmo o cotidiano nas casas de farinha… tudo isso fez parte da minha infância graças aos momentos com minha avó.
Claro que haviam outros contadores de histórias na família e também haviam os livros, mas essa história é sobre a minha avó que também era minha madrinha.
A morte não é o fim…
Enfim, no dia 31 de março de 2020, Deus resolveu levá-la para viver e contar novas histórias no Céu. Não foi uma partida triste. Estive com ela dias antes e, mesmo muito doente e debilitada, ela estava lá contando suas histórias, falando da vida e ensinando sabedoria.
Conversamos por um tempo e ela ainda reuniu forças para levantar da cama e caminhar, sozinha e sem apoio, até o sofá. Ela era tão teimosa!
Quando soube da sua morte, uma imagem me veio a mente: minha avó e meu avô encontrando-se no Céu e correndo juntos… e jovens. É que eles se casaram aos 16 anos e, vez ou outra nas histórias, ela lembrava deles jovens, principalmente, depois que meu avó morreu.
Imaginei a alegria no olhar deles e quantas novas e antigas histórias teriam para contar e para viver, agora na presença de Deus.
A minha primeira contadora de histórias fez silêncio, silêncio nesse mundo. Mas, sua vida e seu exemplo, vão continuar falando para sempre no meu coração.