A neblina era um véu de seda envolvendo a pequena vila ferroviária, refrescando o ar e ocultando as luzes da cidade. Ana e Lucas caminhavam lado a lado pelas trilhas úmidas, o som de seus passos sendo engolido pela névoa. Era a primeira vez de ambos em Paranapiacaba, e a magia do lugar parecia se intensificar à medida que a noite caía.
— É tão lindo e tão estranho — comentou Ana, apertando a mão de Lucas. — Parece que estamos em um outro mundo.
Lucas sorriu.
— É. Quase dá para acreditar nas histórias que nos contaram.
Mas Ana não sorriu de volta. Parou subitamente, franzindo a testa.
— Você ouviu isso?
— O quê?
— Uma voz… Alguém está sussurrando meu nome.
Lucas olhou ao redor, mas tudo estava silencioso, exceto pelo vento suave que agitava as folhas das árvores. Ele franziu a testa, mas manteve a voz tranquila.
— Eu não ouvi nada. Tem certeza?
Ana assentiu, a mão tremendo levemente na dele.
— É uma mulher. Está pedindo ajuda.
Lucas hesitou. Ana sempre foi muito racional e isso de ouvir vozes ou ver coisas não combinava com ela, mas ele havia aprendido a confiar em sua jovem esposa.
— Então, vamos procurar. Você me guia?
A névoa parecia mais densa à medida que avançavam. A voz continuava a chamar por Ana, cada vez mais clara, até que eles pararam diante de um casarão antigo. Suas janelas quebradas pareciam olhos vazios, e a porta, levemente aberta, os convidava a entrar.
— É aqui — sussurrou Ana, com a voz falhada e trêmula.
Quando cruzaram a soleira, algo mudou. O ar ficou pesado, e o ambiente ao redor deles começou a brilhar com uma luz fantasmagórica. De repente, não estavam mais no presente: viam cenas de um passado distante.
Um jovem elegante, vestido em trajes antigos, gritava desesperado, esmurrando a porta de uma adega trancada. Em outro lugar, uma mulher em um vestido de noiva surrado corria pela linha do trem, lágrimas escorrendo pelo rosto. A cena final mostrou a queda da noiva e sua transformação em neblina.
Então, a visão cessou.
Quando Ana e Lucas recuperaram os sentidos, uma figura etérea estava diante deles. A noiva, com um véu que parecia flutuar por conta própria, os observava com olhos tristes, mas gentis.
— Vocês ouviram minha história — disse ela, a voz soando como o vento entre as árvores. — Lucas, você acreditou em Ana quando ninguém mais acreditaria. Por isso, eu os abençoo, para que o amor de vocês seja eterno.
Lucas e Ana saíram da casa, certos de que haviam encontrado o casal da lenda do “véu da noiva”. Ambos estavam felizes por terem enfrentado e vivido aquele momento juntos, mas uma pergunta não saia de suas cabeças:
O que aconteceria, se Lucas não tivesse acreditado em sua esposa?