O Véu da Noiva

Publicado por em 04 jan 25. Folclore, Prosas e Contos, Textos
Tempo estimado para leitura: 4 minutos

A neblina era um véu de seda envolvendo a pequena vila ferroviária, refrescando o ar e ocultando as luzes da cidade. Ana e Lucas caminhavam lado a lado pelas trilhas úmidas, o som de seus passos sendo engolido pela névoa. Era a primeira vez de ambos em Paranapiacaba, e a magia do lugar parecia se intensificar à medida que a noite caía.

— É tão lindo e tão estranho — comentou Ana, apertando a mão de Lucas. — Parece que estamos em um outro mundo.

Lucas sorriu.

— É. Quase dá para acreditar nas histórias que nos contaram.

Mas Ana não sorriu de volta. Parou subitamente, franzindo a testa.

— Você ouviu isso?

— O quê?

— Uma voz… Alguém está sussurrando meu nome.

Lucas olhou ao redor, mas tudo estava silencioso, exceto pelo vento suave que agitava as folhas das árvores. Ele franziu a testa, mas manteve a voz tranquila.

— Eu não ouvi nada. Tem certeza?

Ana assentiu, a mão tremendo levemente na dele.

— É uma mulher. Está pedindo ajuda.

Lucas hesitou. Ana sempre foi muito racional e isso de ouvir vozes ou ver coisas não combinava com ela, mas ele havia aprendido a confiar em sua jovem esposa.

— Então, vamos procurar. Você me guia?

A névoa parecia mais densa à medida que avançavam. A voz continuava a chamar por Ana, cada vez mais clara, até que eles pararam diante de um casarão antigo. Suas janelas quebradas pareciam olhos vazios, e a porta, levemente aberta, os convidava a entrar.

— É aqui — sussurrou Ana, com a voz falhada e trêmula.

Quando cruzaram a soleira, algo mudou. O ar ficou pesado, e o ambiente ao redor deles começou a brilhar com uma luz fantasmagórica. De repente, não estavam mais no presente: viam cenas de um passado distante.

Um jovem elegante, vestido em trajes antigos, gritava desesperado, esmurrando a porta de uma adega trancada. Em outro lugar, uma mulher em um vestido de noiva surrado corria pela linha do trem, lágrimas escorrendo pelo rosto. A cena final mostrou a queda da noiva e sua transformação em neblina.

Então, a visão cessou.

Quando Ana e Lucas recuperaram os sentidos, uma figura etérea estava diante deles. A noiva, com um véu que parecia flutuar por conta própria, os observava com olhos tristes, mas gentis.

— Vocês ouviram minha história — disse ela, a voz soando como o vento entre as árvores. — Lucas, você acreditou em Ana quando ninguém mais acreditaria. Por isso, eu os abençoo, para que o amor de vocês seja eterno.

Lucas e Ana saíram da casa, certos de que haviam encontrado o casal da lenda do “véu da noiva”. Ambos estavam felizes por terem enfrentado e vivido aquele momento juntos, mas uma pergunta não saia de suas cabeças:

O que aconteceria, se Lucas não tivesse acreditado em sua esposa?

Comente

*
*