Saci(s)

Publicado por em 24 abr 21. Folclore
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Ao contrário do que muita gente pensa, Saci não é uma entidade única, um ser. Saci é uma espécie, dividida em tipos e cheia de histórias muito interessantes.

O primeiro Saci

O primeiro Saci, por assim dizer, é Jaci Jaterê, o quarto dos sete filhos de Tau e Kerana e o único com aparência (quase) humana. O nome Jaci Jaterê, significa “Pedaço da Lua” em uma tradução livre e tem muita relação com sua aparência, sendo descrito como um pequeno índio de aspecto infantil com cabelos e olhos claros. Ele está sempre com seu bastão mágico, do qual retira seu poder.

Jaci Jaterê vive nas matas e é considerado o protetor da Erva Mate e senhor da sesta, o tradicional descanso ao meio do dia das culturas latino-americanas.

Segundo o mito, ele sai da floresta percorrendo as vilas em busca de crianças que não dormem na hora certa. Apesar de quase sempre estar invisível para os seres humanos, ele se mostra para estas crianças deixando-as em transe.

Uma versão da história diz que ele leva as crianças para um local secreto da floresta, e brinca com elas até que fiquem bem cansadas para dormir e depois as devolve para suas camas, sem memória da experiência.

Em outra versão mais sinistra, Jaterê entrega as crianças como comida para seu irmão Ao Ao.

Dizem que, se alguém for capaz de tomar o cajado de Jaci Jaterê, ele vai se atirar ao chão e chorar como uma criança pequena. Enquanto ele está neste estado, se a pessoa perguntar pelos seus tesouros escondidos, receberá uma recompensa.

A descendência

Conforme o mito foi se espalhando pelo Brasil, do sul para o norte, foi incorporando características de outras culturas: a cor preta da pele, a carapuça, o cachimbo…

Aos poucos, os Sacis se tornaram um tipo de símbolo e proteção para os escravos.

Quando um escravo cometia um erro era punido. Assim, indicar que esses erros eram obras da traquinagem do Saci podia ser uma forma de escapar do castigo.

Por exemplo, quando a cozinheira salgava a comida, dizia que foi obra do Saci. O mesmo acontecia quando derrubavam potes de mantimento ou sopravam o fogão de lenha e acabavam espalhando cinzas pela cozinha.

A noite, nos sítios, é possível escutar os cavalos correrem no pasto e, quando amanhece, o cavalo está com a crina trançada. Dizem que o Saci fez trança para não cair do cavalo enquanto passava a noite cavalgando.

O fato de andar em redemoinhos de vento e poder ser aprisionado em uma garrafa dá aos Sacis certa semelhança com o Gênio mágico das histórias do Aladim. Se pensarmos bem, ter uma perna só, cria uma silhueta bem parecida com a aparência do gênio também.

Inclusive, há diversos relatos de que Sacis tem, na verdade, duas pernas. A velocidade que eles se movem e o redemoinho de vento é que dariam a impressão de terem uma perna só.

Os poderes mágicos que estavam no cajado do Jaci Jaterê, passaram para o gorro dos novos Sacis. Inclusive, roubar o gorro de um Saci significa ter poder sobre ele.

O gorro vermelho lembra o barrete frígio, usado durante o Império Romano pelos antigos escravos depois de conseguirem a liberdade.

E dessa forma, quase antropofageando as diversas culturas que compõem o Brasil, os Sacis foram se multiplicando.

Tipos de Saci

Os estudiosos dos Sacis, os “saciólogos”, afirmam que existem diversos tipos de Saci. Já cheguei a ver textos falarem em mais de 70 tipos!

Alguns dos tipos mais comentados em suas aparições são:

Pererês: O tipo mais conhecido devido a obra de Monteiro Lobato. São pretinhos, e são os mais benevolentes. Usam gorro vermelho na cabeça, com o qual faz mágicas.

Taperês: São Sacis femininas. Elas controlam insetos e tem poder de se transformar no pássaro Tapera naevia, também conhecido com saci, cuco manchado, matintaperera ou matintaperê.

Triques: São morenos e brincalhões. Assim como os Pererês, gostam de amarrar as crinas dos cavalos e fazem traquinagens.

Saçurás: São Sacis de olhos vermelhos. Eles têm aparência mais maléfica, podem ser malvados e muitas vezes são comparados a demônios.

O Saci também está no livro: Anicejara e a pedra do trovão

Curiosidades sobre sacis

Sacis não morrem. Todo Saci vive até os 77 anos, então vira orelha de pau, aqueles cogumelos que aparecem no toco das árvores.

Sacis são um tipo de planta. Acredita-se que, além de se transformarem em cogumelo no fim da vida, os Saci nascem de brotos de bambu, permanecendo ali até os sete anos. Entre as duas coisas passam os 77 anos seguintes aprontando suas travessuras entre os humanos e os animais.

Sacis tem a mão furada. Alguns tipos de Sacis tem buracos nas mãos de tanto carregar a brasa para acender seu cachimbo. Esses relatos tem relação com a lenda portuguesa do Fradinho da Mão Furada.

O Saci está no futebol. Desde 2016, o Saci Pererê é o mascote oficial do Sport Club Internacional de Porto Alegre (Inter).

O Saci “enganou” a legislação brasileira e conseguiu seu próprio dia. No dia 31 de outubro é comemorado o “Dia do Saci” e muitas pessoas acreditam que existe uma lei sobre isso, mas na verdade, a data é fruto do Projeto de Lei Federal n.º 2.479/2013, que nunca chegou a se tornar lei.

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